Formulação de adubo: saiba como funciona

9 jun, 2022
Agrônomo Alan Ataíde
- Tempo de Leitura: 5 minutos
Formulação de adubo

As diversas situações de disponibilidade de nutrientes no solo e demandas nutricionais das culturas fazem necessária a adequação das quantidades de nutrientes aplicados, adequação esta, que será realizada pelo ajuste da formulação de adubo aplicada e dose. Mas o que é uma formulação de adubo?

Saiba tudo sobre o assunto neste artigo!

O que é formulação de adubo?

Antes de se falar sobre formulação, é necessário definir o que é adubação: ato de disponibilizar ao solo/plantas, substâncias minerais ou orgânicas, naturais ou sintéticas, fornecedoras de um ou mais nutrientes das plantas. 

Já a formulação de adubo, se refere ao produto da combinação das diferentes matérias-primas capazes de fornecer nutrientes para as plantas. 

O processo não envolve reações químicas entre os componentes da mistura, o que assegura a manutenção das características próprias. Na Figura 1, é demonstrado o processo de dosagem e mistura de matérias-primas, para produção de formulado a ser envasado para posterior entrega ao agricultor.

Misturas de fertilizantes.

Figura 1. Esquema do processo de mistura de fertilizantes.

As fórmulas são expressas pelos teores percentuais dos nutrientes que fornece e a escolha de qual a mais adequada, deve considerar a interpretação de laudo de análise de solo, expectativa de produção e histórico da área. 

Por exemplo: aplicando-se 100 kg/ha da formulação NPK 00.18.18, se estará disponibilizando 0 kg/ha de N, 18 kg/ha de P2O5 e 18 kg/ha de K2O por hectare.

Os adubos formulados podem ser feitos através de uma mistura simples de grânulos de diferentes matérias-primas, ou ser fruto da fusão industrial de diferentes matérias-primas para obtenção de um único grânulo com todos os nutrientes, o chamado “NPK no grânulo”.

Dentre as matérias-primas fornecedoras de potássio (K) para formulações granuladas, tem-se o cloreto de potássio (KCl), além de sulfatos de potássio, como o KMag. Como fontes de fósforo (P) existe o fosfato monoamônio (MAP), Superfosfato Simples (SSP), Superfosfato Triplo (TSP), Fosfato Diamônio (DAP) além de MicroEssentials. Como fontes de nitrogênio (N), tem-se a ureia, sulfato de amônio (SA) e nitrato de amônio (NA).

Vantagens da formulação de adubo

Uma grande vantagem da formulação de adubo é a flexibilidade proporcionada pelo uso de ampla variedade de matérias-primas, permitindo às misturadoras, variar teores de nutrientes com baixo custo de operação. 

Já o maior problema com as misturas é a segregação, que é a separação das diferentes matérias-primas que compõem o fertilizante, devido a desuniformidade de densidade, tamanho e forma dos grânulos. 

Ou seja, a segregação de nutrientes em uma formulação de adubo, será proporcional à desuniformidade dos grânulos das diferentes matérias-primas que a compõem. 

A segregação proporcionará aplicações desuniformes, tanto em aplicações centrífugas (à lanço) quanto aplicações localizadas, como no sulco de semeadura. 

Na Figura 2, é ilustrado o processo de separação dos diferentes grânulos devido a vibração dos equipamentos de distribuição de fertilizantes, que resultará em uma aplicação desuniforme de nutrientes na lavoura.

Segrefação e vibração

Figura 2. Esquema do processo de segregação de fertilizantes por vibração dos equipamentos de aplicação.

Outra preocupação quanto à mistura de diferentes matérias-primas é a compatibilidade química. É preciso assegurar estabilidade química das diferentes matérias-primas utilizadas na mistura, entretanto, esta estabilidade nem sempre é alcançada ou pode ocorrer de forma limitada, dependendo das matérias-primas utilizadas. 

Conforme demonstrado na Figura 2, misturas como ureia e nitrato de amônio não são compatíveis, pois irão reagir quimicamente, comprometendo tanto a qualidade física quanto química do produto final.

tabela de compatibilidade de misturas entre fertilizantes sólidos.

Figura 2. Tabela de compatibilidade de mistura de diferentes matérias-primas de fertilizantes.

Todas as definições e regulamentações acerca de fertilizantes no Brasil são definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), disponível através da normativa IN39.

Leia também: Como usar a “Lei do Mínimo” para racionalizar os investimentos com fertilizantes

Como calcular uma fórmula de fertilizante

O cálculo se fundamenta na produção de 1.000 kg de produto acabado, através do emprego de várias matérias-primas para fornecer os nutrientes NPK, além de Ca, Mg, S e micronutrientes. 

As indústrias trabalham no intuito de conseguir a melhor formulação, tanto do ponto de vista de qualidade e eficiência agronômica, atendimento às normas legais de fertilizantes, como do ponto de vista econômico. 

Dessa forma, uma mesma formulação pode ser  composta pela combinação de diferentes matérias-primas, dependendo da viabilidade e disponibilidade da indústria. 

Uma formulação de fertilizante descrita como 05.25.25 tem 5% de N, 25% de P2O5 e 25% de K2O. Isto é, em cada 100 kg da referida formulação teremos 5 kg de N, 25 kg de P2O5 e 25 kg de K2O. Em 1.000 kg teremos, respectivamente, 50, 250 e 250 kg de N, P2O5 e K2O.

Vamos a um exercício de como calcular as matérias-primas desta fórmula 05.25.25.

O primeiro passo no cálculo de uma formulação de fertilizante é começar pelo cálculo do K2O, porque o mais utilizado como fonte de potássio é o cloreto de potássio (KCl), que contém 60% de K2O.

Como é necessário 25% ou 250 kg/t de K2O, uma simples regra de três dará o resultado.

Em 100 kg de KCl temos …………… 60,5 kg de K2O

Quanto KCl (X) é necessário para …..250 kg de K2O

X = 250 x 100 / 60,5

X = 414 kg de cloreto de potássio (KCl)

Sobra, então, 586 kg (1000 – 414) para se completar com nitrogênio (N) e fósforo (P2O5).

Utilizando-se o MicroEssetials S9 com 10% de N e 46% de P2O5, além de 9%S.

Em 100 kg de MicroEssentials S9 temos …………… 10 kg de N

Quanto MicroEssentials S9 (X) é preciso para …..50 kg de N

X = 100 x 50 / 10

X = 503 kg de MicroEssentials S9

Para completar o P2O5 da fórmula sem adicionar nitrogênio, existem duas opções: Superfosfato Simples ou Superfosfato Triplo. Neste caso, se opta pelo supersimples, devido aos teores de cálcio e enxofre.

Utilizando aqui o Fosmais 0% de N e 23% de P2O5, além de 17%Ca e 10%S.

Em 100 kg de Fosmais tem-se …………… 23 kg de P2O5

Quanto Fosmais (X) é necessário para …..18,62 kg de P2O5 (250 – (5,03×46))

X = 100 x 18,62 / 23

X = 81 kg de Fosmais

Os fertilizantes fosfatados e potássicos ainda podem receber um banho de 2 kg/ton de antipoante (responsável por reduzir o atrito entre grânulos e o despreendimento de finos), que deve ser contemplado no fechamento de fórmula.

Resumindo tem-se:

414 kg de Cloreto de potássio, que vão fornecer 250 kg de K2O numa tonelada ou 25%.

Atingiu-se assim a garantia da fórmula, ou seja, 25% de K2O.

503 kg de MicroEssentials S9, que fornecerão 50 kg de N ou 5% de N, além de 230 kg de  P2O5  ou 23% de P2O5 .

Portanto, não se atingiu os 25% de P2O5  da formulação.

81 kg de Fosmais fornecerão 20 kg de P2O5  ou 2% de P2O5 .

2 kg de Antipoante.

Somando as matérias-primas chega-se ao resultado de:

414 de KCl + 503 kg de MicroEssentials S9 + 81 kg de Fosmais + 2 kg de antipoante dão um total de 1000 kg, ou seja, a fórmula fechou corretamente.

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