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A importância da cafeicultura brasileira

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A cafeicultura é uma atividade agrícola de extrema importância econômica e histórica para o Brasil, que se mantém por séculos como o maior produtor da bebida mais consumida e apreciado do mundo. Além de estar presente no dia a dia do brasileiro, o café tem marcada importância social na geração de empregos diretos e indiretos. Para entender como funciona a produção de café no Brasil, suas peculiaridades e desafios, leia nosso texto até o fim.

Como funciona a cafeicultura no Brasil?

O café se destaca por ser uma das bebidas mais populares do mundo, é a segunda bebida mais consumida no Brasil, atrás apenas da água e a quinta commodity mais comercializada no mundo (Teixeira, 2020). De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC) o consumo mundial de café é de cerca de 150 milhões de sacas de 60 kg por ano, com crescimento anual de 2,5 %.

O Brasil é o maior produtor (há mais de 100 anos), exportador e segundo maior consumidor de café do mundo (21,7 milhões de sacas em 2023), perdendo apenas para os EUA (24 milhões de sacas). O volume consumido pelo Brasil representou 39 % da safra em 2023 (CONAB). Embora o Brasil seja o segundo maior consumidor de café em volume, o consumo per capta é de 6,4 kg/habitante/ano, superior ao dos EUA que é de 4,9 kg/habitante/ano.

Mais de 70 países produzem café no mundo, contudo Brasil, Vietnã, Colômbia, Indonésia e Etiópia são responsáveis por cerca de 75% da produção mundial (Tabela 1).

Tabela 1. Ranking dos maiores produtores mundiais de café na safra 2022/02023

RankingPaísProduçãoParticipação no mercado
milhões de sacas de 60 kg%
1Brasil*66,438,1
2Vietnã31,117,8
3Colômbia11,66,7
4Indonésia9,75,6
5Etiópia8,34,8
TotalMundo170,019100

*44,9 milhões de sacas de café arábica e 21,4 milhões de café conilon. Fonte: sistemafaeb.org.br

mapa da cafeicultura no Brasil

Figura 1. Principais regiões produtoras de café no Brasil. Fonte: Adaptado de BSCA, INPI, IBGE, CONAB e Agências Locais. Desvende os segredos de um cultivo de café campeão (nutricaodesafras.com.br)

No Brasil, o estado que mais produz café é MG (58 % da área total de produção), seguido ES, SP e BA. Atualmente são identificadas 35 regiões produtoras de café no Brasil, das quais 14 têm Indicação Geográfica (IG) de acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

Principais tipos de café existentes no Brasil

O cafeeiro pertence à família botânica Rubiaceae, que possui duas espécies comercialmente importantes: Coffea arabica L. (café arábica) e Coffea canephora Pierre ex L. Froehner (café canéfora ou conilon). Embora a espécie Coffea liberica Bull ex Hiern (café libérica ou excelsa) seja também utilizada para bebida, apresenta menor expressividade econômica. Cerca de dois terços do café negociado em bolsas é arábica e um terço é canéfora (DaMatta e Rena, 2002).

Tanto o café arábica quanto o canéfora possuem características fenológicas de plantas de sombra (umbrófilas), embora sejam cultivadas a pleno sol no Brasil. Estas características são devidas ao ambiente de origem. O café arábica é originário de sub-bosques de florestas tropicais da Etiópia, em altitudes que variam entre 1.600 – 2.800 m, enquanto o café canéfora é oriundo de estratos florestais intermediários de florestas equatoriais da bacia do Rio Congo, em altitudes que variam desde o nível do mar até 1.200 m (DaMatta e Rena, 2002).

O sistema radicular do cafeeiro é pivotante. Contudo, na produção de mudas de café em viveiros comerciais, o sistema radicular cresce rapidamente e ocorre o enovelamento no fundo da sacola e, para que a planta não ocorra a formação do pião-torto após o plantio, corta-se o fundo da sacola para eliminar a extremidade enovelada. Esta prática faz com que ocorra a perda da dominância apical e, por isso, em lavouras comerciais o sistema radicular do cafeeiro é denominado pseudo-pivotante.

O cafeeiro é formado pois dois ramos morfologicamente distintos: o ramo ortotrópico (ramo vertical, ou caule) e o ramo plagiotrópico (ramo lateral, ou produtivo). O C. arabica possui, tipicamente, um único ramo ortotrópico e o C. canephora possui vários ramos ortotrópicos. De maneira esquemática podemos classificar as características dos ramos dos cafeeiros da seguinte forma (Figura 2):

explicacao tipos de café na cafeicultura

Figura 2. Características morfológicas de ramos plagiotrópicos de café arábica e café conilon. Fonte: adaptado de Sakiyama (2015).

            O café arábica foi introduzido no Brasil em 1727 e seu melhoramento genético teve início no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) no início da década de 1930. Na década de 1970, devido à constatação da ferrugem (Hemileia vastatrix) do cafeeiro no Brasil, vários programas de melhoramento foram desenvolvidos. A recomendação de cultivares de café deve ser realizada com bastante critério, por ser uma cultura perene e por haver forte interação entre genótipo e ambiente. Atualmente existem cerca de 123 cultivares de café arábica registradas no Registro Nacional de Cultivares (RNC) oriundas, principalmente, dos seguintes programas de melhoramento: Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Fundação PROCAFÉ e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG).

Em 1985 o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) iniciou um programa de melhoramento genético para o café conilon, com objetivo de produzir materiais genéticos mais produtivos. Atualmente, programas de melhoramento genético de C. canephora em desenvolvimento no Brasil disponibilizam aos cafeicultores recomendação de variedades clonais e de propagação por sementes adaptadas às condições edafoclimáticas das regiões produtoras no Brasil e no mundo, além da obtenção de híbridos, oriundos de cruzamentos dirigidos com materiais genéticos fontes de resistência à ferrugem, tolerância à seca, qualidade de bebida, adequação de colheita, entre outros (Fonseca et al., 2012).

Qual a importância da produção de café?

O café é o quinto produto na pauta de exportações do Brasil, movimentando US$ 5,2 bilhões em 2017 (MAPA). Como a cafeicultura é uma atividade realizada em diversas regiões no Brasil, com variações de clima, relevo, altitudes e variedades cultivadas, o país produz uma ampla variedade de qualidade de grãos que resultarão em bebidas para atender às exigências consumidores em termos de qualidade de bebida e preço.

A cafeicultura brasileira ocupa uma área de 2 milhões de hectares, cultivados por cerca de 300 mil cafeicultores, com predominância de pequenas e médias propriedades. Os 1900 municípios produtores estão principalmente nos estados de MG, ES, SP, BA, RO, PR, RJ, GO, MT, AM e PA.

A produção de café arábica é concentrada nos estados de MG, SP, ES e BA, responsáveis por cerca de 85 % da produção nacional. Cerca de 95 % da produção de conilon é oriunda dos estados do ES, BA e RO.

De acordo com dados da FIESP (2022) a cadeia produtiva do café gera cerca de 585 mil empregos diretos, considerando campo, indústria e comércio. Na indústria são 1050 unidades de beneficiamento e 826 estabelecimentos comerciais atacadistas especializados em café. No ano de 2021 foram mais de R$ 68 milhões gerados pelo campo e pela indústria.

Em 2023 o Brasil exportou 34,9 milhões de sacas (no acumulado de janeiro a novembro) para cerca de 152 países. Os principais destinos das exportações brasileiras são: EUA, Alemanha, Itália, Bélgica e Japão (Figura 3).

Qual é o solo ideal para plantar café?

O desenvolvimento adequado do cafeeiro ocorre em solos que não apresentem limitações a boa expansão do sistema radicular em profundidade, seja por impedimentos físicos ou químicos e que esteja em regiões que proporcionem adequada disponibilidade hídrica.

Como o cafeeiro é uma planta perene, que pode ficar no campo por 20 anos ou mais, dependendo do manejo, a escolha da área para implantação da lavoura e a qualidade da muda utilizada no plantio são fatores determinantes do sucesso da atividade cafeeira.

O primeiro fator a ser observado é o relevo do terreno, pois isso determinará a possibilidade ou não de mecanização das principais atividades na lavoura. Lavouras implantadas em terrenos suavemente ondulados (declividade entre 2,5 e 12 %) são facilmente mecanizáveis. Terrenos fortemente ondulados (entre 12 e 50 % de declividade) também são muito utilizados na cafeicultura, porém o limite para mecanização fica entre 15 e 20 % de declividade.  Para declividades acima de 30 % a grande maioria dos tratos culturais é realizada de forma manual sou semi-mecanizada, como no caso da colheita com derriçadeiras costais e manejo de plantas daninhas com roçadeiras costais.

Terrenos muito planos e em baixadas e tabuleiros, além da possibilidade da ocorrência de geadas, geralmente possuem solos pesados (altos teores de argila) e mal drenados. Em áreas de chapadas podem ocorrer ventos frios com muita frequência, o que reduz o crescimento das plantas e as expõem à ocorrência de doenças como a mancha-de-phoma (Phoma costaricensis).

As variedades modernas de café arábica e os clones de conilon são altamente exigentes em nutrientes e, portanto, exigem solos com alta fertilidade e com boas características físicas e físico-químicas. Neste sentido é fundamental a realização de análises químicas de solo das camadas superficiais (0 – 20 cm) e subsuperficiais (20 – 40 cm e 40 – 60 cm ou mais) quando da implantação do cafeeiro. Os resultados das análises químicas de solo são primordiais para orientar as práticas de correção e condicionamento do solo, como calagem e gessagem e as adubações de plantio, de formação da lavoura (primeiro e segundo ano após o plantio) e de produção.

Embora as variedades de café apresentem diferentes potenciais de reposta à adubação e aos manejos nutricionais e haja diferença considerável entre o café arábica e o conilon, a tabela 2 apresenta faixas de suficiência para os principais atributos de fertilidade do solo para cafeeiros (café arábica) com altas produtividades.

Tabela 2. Faixas de suficiência para atributos de fertilidade do solo (0-20 cm) sob lavouras de café arábica de alta produtividade em MG

Faixas de suficiêciaMOpHKCaMgV
 dag/kg mg/dm³cmolc/dm³cmolc/dm³%
Muito Baixa< 2,0< 4,1< 36< 1,0< 0,6< 13
Baixa2,0-2,54,1-4,636-461,0-1,40,6-0,713-22
Média2,5-3,24,6-5,046-571,4-1,90,7-0,922-34
Boa*3,2-4,05,0-5,457-731,9-2,60,9-1,134-50
Alta4,0-5,05,4-5,673-952,6-3,41,1-1,250-66
Muito Alta> 5,0>5,6>95>3,4>1,2>66

*90-100 % da produtividade máxima. Fonte: Martinez e Neves (2015).

Qual o melhor adubo para o café?

A demanda nutricional do cafeeiro é altamente variável ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura. Por isso, o conhecimento do ciclo de crescimento da planta e das suas fases fenológicas é fundamental para fazer uma adubação racional do cafeeiro.

Depois de implantado no campo, o crescimento inicial do cafeeiro é relativamente lento, por isso a demanda nutricional não é tão alta até a ocorrência da primeira florada (24-30 meses, dependendo do manejo e da variedade). Para atender esta demanda nutricional inicial realiza-se a adubação de plantio, na cova ou sulco e adubações de formação.

A partir do momento em que os frutos passam a ser drenos preferenciais o manejo da adubação é em função da expectativa de produtividade, que também leva em consideração o crescimento vegetativo e formação de novos nós em ramos produtivos. Na fase de produção a demanda por nutrientes é elevada.

 Nas condições de cultivo do Centro-Sul do Brasil, o cafeeiro vegeta e produz na mesma estação (estação das águas), que vai de setembro/outubro até março/abril (Figura 4). Como há competição entre crescimento vegetativo e reprodutivo na mesma planta, ocorre uma forte competição por fotoassimilados, reservas e nutrientes entre os drenos (frutos, ramos e raízes). Como os frutos são drenos preferenciais, o seu crescimento pode provocar morte de raízes, com retroalimentação negativa para o crescimento dos ramos, dando origem à bienalidade, característica de flutuação de altas e baixas produtividades do cafeeiro em dois anos. Por isso, a média de produtividade da lavoura cafeeira e dada pela média de dois anos consecutivos.

Fatores como falta de nutrientes, seca, ocorrência severa de pragas e doenças fazem com que a bienalidade seja mais acentuada e, em caso extremo, pode ocorrer morte descendente dos ramos produtivos (conhecida como seca de ponteiros). Por isso, é fundamental conhecer o acúmulo de nutrientes na planta toda para que a adubação seja planejada para fornecer os nutrientes nos momentos de maior demanda pelas plantas.

fenologia do café

Figura 4. Fenologia do café arábica. Fonte: Pezzopane et al. (2003). Desvende os segredos de um cultivo de café campeão (nutricaodesafras.com.br)

Em função da elevada exigência do cafeeiro por solos de alta fertilidade e das altas demandas nutricionais os fertilizantes como o K-Mag, da Mosaic, disponibiliza os nutrientes com alta solubilidade e de acordo com a demanda das plantas durante seu ciclo de crescimento e produção.

banner k-mag

Os dois nutrientes mais demandados pelo cafeeiro são N e K, seguidos por Ca e Mg. De modo geral, a ordem de exigência é: N > K > Ca > Mg > S > P > B > Zn > Cu. De acordo com Marinez e Neves (2015) um cafeeiro arábica, em uma população média de 5.000 plantas/ha, extrai em 55 meses: 490 kg/ha de N, 330 kg/ha de K, 220 kg/ha de Ca, 66 kg/ha de Mg, 43 kg/ha de S, 30 kg/ha de P, 1600 g/ha de B e 770 g/ha de Zn e 550 g/ha de Cu, com variação de cerca de 25 % para os macronutrientes e 30 % para B, Zn e Cu entre cultivares.

Grande proporção dos nutrientes extraídos é exportada pelos frutos: 25 % do N; 37 % do P; 46 % do K; 5,5 % do Ca; 18 % do Mg; 19 % do S; 7 % do B; 20 % do Cu e 6 % do Zn acumulados nas plantas até os 55 meses após o plantio. Por isso, a reposição dos nutrientes via adubação é fundamental para manter a fertilidade do solo e condicionar ambientes para altas produtividades.

Devido à alta demanda do cafeeiro por N e da dinâmica deste nutriente no solo, a adubação nitrogenada de cafeeiros em produção é parcelada ao longo da estação chuvosa (duas ou mais aplicações). Para aumentar a eficiência do uso do N, preferencialmente deve-se utilizar fontes de N que não promovam perdas do N por volatilização (Ureia estabilizada ou fontes amoniacais) ou por lixiviação. Geralmente as doses de K também são parceladas juntamente com as doses de N.

Deve-se utilizar fontes de P de alta solubilidade tanto na implantação quanto nas adubações de produção, devido à alta taxa de adsorção de fixação deste nutriente em solos utilizados na cafeicultura. A deficiência de Mg é comum em lavouras cafeeiras em função das altas doses de K aplicadas, por isso é fundamental utilizar fertilizantes fontes de Mg solúvel, onde se destaca o K-Mag como excelente fonte de K, Mg e S. A deficiência de B também é comum, principalmente em solos com baixos teores de matéria orgânica. A deficiência de B compromete o a floração e frutificação da lavoura.

tabela-de-macro-e-micronutrientes-extraidos-do-cafe

Portanto, para o desenvolvimento de uma cafeicultura produtiva a adubação racional do cafeeiro deve levar em consideração o conhecimento da fenologia da planta, da fertilidade do solo, estimada por meio da avaliação da fertilidade do solo (análise química) e da demanda dos nutrientes pelo tecido vegetal (extração e exportação).

Por fim, outro fator preponderante é o conhecimento da lavoura por parte do técnico e do produtor, uma vez que o cafeeiro é uma planta perene, no qual o histórico do manejo da planta e do solo definem o futuro, qualidade e a longevidade da produção.

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