O que você sabe sobre vazio sanitário? Você já parou para pensar como o manejo, o clima, as pragas e doenças podem afetar no desenvolvimento e na produção das culturas agrícolas?
Estima-se que cerca de 76% do potencial produtivo das culturas estão ligados a esses fatores de produção, sendo que 11% são impactados pelos fatores bióticos (pragas, doenças, ervas daninhas) e 65% pelos fatores abióticos, que nada mais são do que a época de plantio, arranjamento espacial das plantas, fertilidade do solo, clima, entre outros fatores.
Neste artigo vamos responder todas as suas dúvidas sobre vazio sanitário, aproveite a leitura!
O que é vazio sanitário e qual a sua relevância para as lavouras?
Visto isso, é de grande importância o manejo sanitário para que as plantas possam atingir as produtividades esperadas e disponibilizar os alimentos necessários para a população mundial.
Pensando na realização desse objetivo, algumas regras são criadas pelo governo brasileiro e uma delas é a determinação do vazio sanitário.
O vazio sanitário é o período contínuo, em que não se pode plantar e nem manter vivas plantas de interesse em qualquer fase de desenvolvimento na área determinada. É regulamentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e que por meio de leis anualmente estabelecidas determina algumas medidas para controlar o período de semeadura das culturas. Principalmente da soja, algodão e feijão, visando diminuir a ocorrência de pragas, doenças e fungos na entressafra, diminuindo os impactos negativos na próxima safra.
Quais são as principais culturas em que o vazio sanitário é aplicado?
O vazio sanitário existe para as culturas que são importantes para a economia brasileira e que possuem algum risco com relação às pragas e doenças. As culturas que mais são impactadas por essa medida no Brasil são a soja, o algodão e o feijão. No próximo item vamos explorar quais as estratégicas que são utilizadas para cada uma destas culturas.
Quais manejos são realizados durante o período do vazio sanitário?
De maneira geral, as práticas adotadas para as culturas da soja, algodão e feijão são semelhantes, onde visando promover a proibição e a ausência total de plantas vivas dessas culturas. Podem ser realizados controles físicos e aplicações de produtos químicos, após a colheita, respeitando as premissas do vazio sanitário.
Como toda regra possui uma exceção, será permitido o cultivo das culturas somente em casos específicos, como na produção de sementes genéticas, pesquisa científica ou quando ocorreram prejuízos na safra e forem autorizados pelos órgãos estatais regulamentadores, seguindo suas respectivas regulamentações e cadastros pré-estabelecidos.
As normativas e portarias são fundamentais para regular o período de vazio sanitário. O descumprimento das medidas estabelecidas nestas normativas pode resultar em multa ao produtor, interdição da propriedade e destruição do plantio.
É de total responsabilidade do produtor, proprietário, arrendatário ou ocupante de propriedades produtoras a eliminação das plantas dos sistemas de soja, algodão, feijão ou outras culturas de interesse durante o período de vazio sanitário, bem como a remoção dos restos culturais ou soqueira em até 15 dias após a colheita.
No que diz respeito à fiscalização das medidas, os órgãos governamentais estaduais serão responsáveis por orientar e punir os produtores que não cumprirem a legislação relativa ao período de vazio sanitário.
Em quais períodos ocorrem o vazio sanitário no Brasil?
Para facilitar o entendimento, vou explicar como é determinado o vazio sanitário para cada cultura:
Soja: o período de vazio sanitário para o ano agrícola de 2023 foi determinado pela Portaria nº 781 do MAPA e limita o calendário de semeadura em 100 dias para todos os estados brasileiros. De maneira geral, para os principais estados produtores de soja no Brasil, os períodos se concentram entre os meses de junho-julho a setembro e tem como principal objetivo combater a doença da Ferrugem da Soja, também conhecida como Ferrugem Asiática.
A Ferrugem Asiática é uma doença causada por fungos e os sintomas são o aparecimento de minúsculos pontos escuros nas folhas, desfolha da planta, o impedimento da formação completa formação dos grãos e redução de produtividade.
Algodão: o vazio sanitário para a cultura foi estabelecido pelo Programa Nacional de Controle do Bicudo do Algodoeiro – PNCB (IN MAPA nº 44, de 29-07-2008) e é uma grande prática adotada para a diminuição da população de bicudos na entressafra.
O período deve ser de pelo menos 60 (sessenta) dias e é determinado por cada Unidade Federativa, de acordo com suas peculiaridades. Falando um pouco mais sobre a praga, o Bicudo do Algodoeiro (Anthonomus grandis) é uma espécie de besouro que apresenta alta capacidade de infestação. Anatomicamente, possui um rosto alongado e coloração que pode ser cinza ou castanha. Seu ataque causa a queda dos botões florais, impedindo a abertura dos frutos e, consequentemente, reduzindo a produção.
Feijão: Segundo a Instrução Normativa (IN) nº 05/2018, o calendário do vazio sanitário do feijão é dividido em duas regiões, como resultado são observados períodos diferentes para o cumprimento da medida.
O Grupo I é formado por 80 municípios, onde o vazio inicia-se no dia 5 de setembro e se estende até 5 de outubro. Já no Grupo II são observados 153 municípios, onde o vazio sanitário começa em 20 de setembro e termina em 20 de outubro. Dessa forma, é muito importante que os produtores consultem a IN nº 05 para identificar qual o período correto do vazio sanitário em função da localização do seu município. Para isso, basta acessar este link.
A praga combatida no feijão é a Mosca Branca (Bemisia tabaci). Pode ser encontrada nas maiorias das regiões agrícolas e é uma das pragas mais conhecidas mundialmente. Causam grandes prejuízos e é o principal transmissor do vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro. O inseto pode ser observado durante todo o desenvolvimento da cultura, porém a sua maior população tende a acontecer quando se tem plantas mais jovens, diminuindo conforme o crescimento do feijoeiro.
Conclusão
Como observamos acima, a ferrugem da soja, o bicudo do algodoeiro e a mosca branca no feijão são doenças e pragas que podem causar grandes prejuízos para as culturas. Isso evidencia que o vazio sanitário é uma importante ferramenta de controle e, quando bem executado, proporciona a interrupção do ciclo das pragas e doenças nas culturas. Isso colabora com a potencialização de vários atributos que podem promover o aumento da capacidade produtiva das lavouras.
Agrônomo Sênior da Mosaic Fertilizantes, responsável pelos estados do Mato Grosso e Rondônia. Mestre e Doutor em Agronomia (Ciências do Solo) e bacharel em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias — FCAV, Universidade Estadual Paulista — UNESP, campus de Jaboticabal. Possui experiência acadêmica em data science e técnica-comercial em nutrição de plantas, fertilizantes e fertilidade do solo.