Solo amarronzado com uma pá em destaque com uma pequena amostra de solo.

Acidez do solo: como alcançar altas produtividades

Solo amarronzado com uma pá em destaque com uma pequena amostra de solo.

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Solo amarronzado com uma pá em destaque com uma pequena amostra de solo.

Antes de iniciarmos sobre este tema, é necessário entender como origina-se a acidez do solo. Em suas condições naturais, a acidez do solo ocorre devido aos principais fatores: material de origem e intensidade da ação dos agentes de intemperismo (clima e organismos).

De forma natural, solos presentes em regiões com elevadas precipitações pluviais tendem à maior acidificação do solo, pois na união da molécula da água com o gás carbônico resulta na liberação de ácido carboxílico e hidrogênio. Com isso, ocorre a remoção de cátions de natureza básica do complexo de troca do solo, tais como Ca, Mg, K e Na, e acumula-se cátions de caráter ácido, Al e H.

Outras situações também podem favorecer a acidez do solo, como, em solos agrícolas, a extração dos cátions básicos pelas plantas pode acentuar a acidez do solo.

O uso e manejo inadequado do solo levam a processos erosivos, proporcionando a exposição das camadas subsuperficiais que geralmente são mais ácidas. A utilização de adubos amoniacais propicia a acidificação oriunda do processo de nitrificação do amônio, assim como a oxidação da matéria orgânica e do enxofre.

O que caracteriza nossos solos como ácidos?

O Brasil é um país extremamente diverso, principalmente devido a sua extensão territorial e, consequentemente, isso influencia em nossos solos, fazendo com que tenhamos uma vasta heterogeneidade entre estes. Além disso, também é de conhecimento que devido ao alto grau de intemperização e consequente lixiviação de elementos essenciais, os solos brasileiros são, em sua maioria, considerados ácidos.

Os solos podem apresentar dois tipos de acidez, a primeira denominada de acidez ativa ocorre devido a disponibilidade e atividade de íons de hidrogênio (H+) na solução do solo, enquanto, a segunda se denomina acidez potencial e está relacionada não apenas com os íons de hidrogênio na solução do solo, mas também com a presença de alumínio e outros cátions de hidrólise ácida (H+ e Al3+).

Lembrando que a acidez potencial é a soma da acidez trocável e acidez não-trocável, ou seja, refere-se as formas trocáveis e não-trocáveis destes íons no solo. Vale ressaltar que a resposta da acidez pelas plantas é reflexo da atividade H+ (acidez ativa) e não da soma total da acidez do solo (acidez potencial).

Entretanto, para definir a quantidade de calcário para a correção da acidez do solo, considera-se a acidez potencial, visto que para neutralizar a acidez ativa a quantidade de calcário seria muito menor.

A acidez do solo é mensurada a partir do pH (potencial hidrogeniônico) na escala de 0 a 14, sendo que solos que apresentam pH abaixo de 7 são denominados ácidos, enquanto aqueles acima de 7, alcalinos. Ou seja, à medida que aumenta o pH do solo reduz a acidez, assim como reduzindo o pH aumenta a acidez do solo.

De acordo com a literatura internacional, a faixa ideal de pH do solo é entre 6,0 e 6,5, pois neste intervalo encontra-se a adequada disponibilidade dos nutrientes para as plantas. No Brasil, o intervalo adequado encontra-se entre 5,7 e 6,0 para a maioria das culturas agrícolas.

Segundo Malavolta (1979), que a disponibilidade dos nutrientes relaciona-se com o pH do solo e representou a partir do gráfico abaixo as tendências da disponibilidade de nutrientes (crescente ou decrescente) em função da mudança do pH do solo.

Gráfico sobre disponibilidade de nutrientes crescente e decrescente.
Gráfico – Relação entre a disponibilidade de nutrientes e pH do solo. Fonte: Malavolta (1979).

Quais são os efeitos negativos da acidez do solo?

Para as culturas agrícolas, a acidez do solo é um dos principais limitantes para o crescimento e evolução das plantas. Os prejuízos oriundos da acidez do solo podem ser classificados como efeitos diretos e indiretos.

Considera-se como efeito direto a limitação ao crescimento e desenvolvimento radicular devido aos íons de Al3+, associados ou não à presença de Mn3+, em níveis tóxicos para as plantas.

Sintomas visíveis como engrossamento das raízes e redução de suas ramificações, prejudicando a absorção de água e nutrientes são observadas em solos com altas concentrações de Al3+.

Já os efeitos indiretos são observados na redução da disponibilidade de outros nutrientes para as plantas, assim como na menor atividade microbiana do solo, afetando diretamente o desenvolvimento das plantas e em lavouras resulta em baixas produtividades.

Como podemos corrigir a acidez do solo?

Para a correção da acidez do solo, a prática mais utilizada é a aplicação do calcário, denominada como calagem. A partir da troca catiônica, o calcário (carbonato de cálcio) neutraliza o H+ e o Al3+, disponilizando ao solo o Ca e Mg no lugar dos cátions de caráter ácido. Devido à deficiência de Mg nos solos dos Cerrados, recomenda-se a utilização de calcários dolomíticos, os quais apresentam teor mínimo de 12 % de MgO.

A primeira etapa a ser realizada para a correção da acidez do solo é a adequada amostragem do solo para identificação da fertilidade do solo. Após a interpretação dos resultados da análise de solo recomenda-se a necessidade dede calcário a ser aplicada na área.

Existem diversos métodos para determinar a necessidade de calagem, sendo o mais comum o método baseado na saturação de bases, utilizando a seguinte fórmula:

N.C. (t/ha) = ((V2 – V1)/100) x CTC x f

Em que: N.C. é a necessidade de calcário; V2 é saturação por bases que deseja alcançar; V1 é a saturação por bases atual (Soma de bases dividida pela CTC); CTC é a capacidade de troca catiônica atual (Soma de bases mais H+ + Al3+), em cmolc.dm-3; e f é o fator de correção (f = 100/PRNT).

Os calcários apresentam em suas fichas de análise o índice denominado Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT), o qual indica a qualidade efetiva do material. O seu valor é dado em porcentagem, porém normalmente não possui 100% de efetividade, tornando necessária a correção dessa diferença a partir do fator f de acordo com a fórmula:

f = 100/PRNT

Em que: f é o fator de correção e PRNT o valor fornecido pela ficha do calcário, em %.

Após a obtenção da quantidade de calcário necessária para a calagem, deve-se atentar na aplicação mais adequada na sua região e solo. Tendo em vista que o calcário necessita de umidade suficiente para reagir no solo e que na região dos Cerrados existe um período de seca prolongado, a calagem dever ser programada ou no final do período chuvoso ou no início do período das chuvas, em torno de 90 a 60 dias antes da semeadura.

A aplicação dever ser realizada de maneira uniforme na superfície do solo. Para áreas sob sistema convencional e áreas de abertura, recomenda-se após a calagem a incorporação do calcário com arado de discos. Já para áreas sob plantio direto, não há incorporação do calcário. O parcelamento da calagem torna-se necessária quando houver elevada dose de calcário (maior que 5 t/ha).

O efeito da calagem concentra-se na camada de 0 a 20 cm do solo. Para a camada subsuperficial recomenda-se a aplicação do gesso agrícola, no intuito de promover condições favoráveis para o sistema radicular das plantas.

A calagem apresenta efeito residual que pode persistir por vários anos. Entretanto, é necessário realizar o acompanhamento da acidez do solo para manter os níveis do pH dentro da faixa ideal.

Quais são as vantagens da correção da acidez do solo?

Além da neutralização do H+ e Al3+, a calagem tem outro benefício que é o fornecimento de Ca e Mg para as plantas, sendo esta a principal fonte destes dois nutrientes para as diferentes culturas.

Observa-se também a geração de cargas negativas no solo, ou seja, aumento da retenção de cátions a partir da maior CTC efetiva do solo.

Com a elevação do pH do solo ocorre o aumento da atividade microbiana, em especial à fixação biológica de nitrogênio, colonização dos fungos micorrízicos e aumento do processo de mineralização da matéria orgânica.

De maneira geral, a correção da acidez do solo proporciona condições adequadas ao crescimento radicular que por sua vez, aumenta a sua absorção de água e nutrientes pela planta, principalmente em situações de estresses ambientais.

Pontos de atenção:

Diante da elevação do pH do solo para alcançar a faixa ideal devido a calagem, alguns micronutrientes apresentam redução de disponibilidade. Os micronutrientes metálicos, tais como Cu2+, Fe2+, Fe3+ e Zn2+ em pH mais elevados tenderão ao processo de precipitação e, consequentemente, reduzindo a disponibilidade deles às plantas, havendo a necessidade de adubação com estes nutrientes.

Outro nutriente que merece atenção é o Magnésio. Tendo em vista que o calcário é a sua principal fonte diante de solos que apresentam sua deficiência, normalmente a quantidade fornecida pela calagem é insuficiente para o alcance do potencial produtivo das culturas agrícolas. Com isso, toma-se como fundamental a adubação complementar de Magnésio para as grandes culturas.

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Artigo escrito em parceria com Beatriz Lima – Especialista de Desenvolvimento de Mercado

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