Calcário calcítico: saiba como aplicar e conheça os benefícios

28 dez, 2023
Agrônoma Deborah Bueno
- Tempo de Leitura: 5 minutos
Um trator verde desbravando um vasto campo de plantação.

Na agricultura, são utilizados três tipos de calcário. Neste artigo, você terá a oportunidade de se aprofundar no conhecimento sobre o calcário calcítico e seu papel crucial na agricultura. Prossiga com a leitura e descubra como o calcário tem sido fundamental para maximizar a produtividade das lavouras!

Calcário na correção da acidez do solo e na maximização da produtividade agrícola

O calcário é utilizado na agricultura com a finalidade de corrigir a acidez do solo, sendo uma técnica muito difundida e recomendada para melhorar a produtividade das culturas agrícolas, uma vez que, grande parte dos solos brasileiros são originalmente ácidos e pobres em nutrientes, com baixos teores de nutrientes como cálcio (Ca), magnésio (Mg) e com presença de alumínio (Al) trocável, este último indesejado para as boas relações de fertilidade do solo.

Para que os solos possam proporcionar condições mais adequadas para o atingimento de melhores produtividades, a calagem (uso do calcário) é um manejo que deve ser realizado para elevar o pH do solo e os teores de Ca e Mg, como também reduzir os teores de Al trocável. Proporcionando um aumento das cargas positivas do solo, aumento da Capacidade de Troca de Cátions (CTC) e assim também, interferindo para uma menor lixiviação do potássio (K) e menor fixação de fósforo (P).

No solo e em contato com a água, o calcário libera Ca2+, Mg2+ e CO32– (carbonato) na sequência da reação HCO3– (bicarbonato). O carbonato e bicarbonato são bases fracas que estão em constante formação de  OH. Trata-se de uma reação lenta de formação do OH e consequente neutralização do H+ da solução do solo, responsável por sua acidez.

Sendo o principal insumo para a correção da acidez e uma das principais ferramentas para o manejo da fertilidade do solo, além de aportar ao sistema o Ca e Mg, contribuindo para o aumento e equilíbrio entre as bases do solo, melhora o aproveitamento de nutrientes, o enraizamento e, consequentemente, o volume de solo explorado. É importante considerar a manutenção de faixas adequadas de pH para maximizar os efeitos benéficos.

O que é calcário calcítico?

O calcário possui como principal componente o carbonato de cálcio (CaCO³) e é obtido através da moagem da rocha calcária.

É um corretivo agrícola que possui em sua composição carbonato de cálcio (CaCO³) e carbonato de Mg (MgCO³), agentes com capacidade de neutralizar a acidez do solo, melhorar as propriedades químicas e favorecer a fertilidade do solo. O insumo apresenta 40% de óxido de Ca e 5% de óxido de Mg.

Quais são os 3 tipos de calcário?

 Existem três tipos de calcário utilizados na agricultura, sendo assim classificados a partir da concentração do MgO:

  • – Calcário calcítico (menos de 5% de MgO);
  • – Calcário magnesiano (5% a 12% de MgO);
  • – Dolomítico (mais de 12% de MgO).

E ainda com relação a concentração de CaCO³, o calcário calcítico possui de 45% a 55% de CaO; o magnesiano de 40% a 42% de CaO; e os dolomíticos apresentam e de 25% a 35% de CaO.

Qual a diferença do calcário calcítico e dolomítico?

O calcário calcítico e o dolomítico diferem entre si de acordo com a concentração de óxido de magnésio (MgO).

O calcário dolomítico tem mais de 12% de (MgO) e baixo teor de óxido de Ca, entre 25% a 30%. Por esta característica a aplicação do calcário dolomítico pode ser recomendada para os cultivos que tem maiores exigências nos teores de Mg.

Qual é a melhor opção: calcário dolomítico ou calcítico? 

Em termos de correção da acidez, o tipo de calcário (calcítico, dolomítico ou magnesiano) não altera a eficiência do processo. Essa característica esta atribuída ao Poder Residual de Neutralização Total (PRNT), com a seguinte relação: quanto maior o PRNT do calcário, mais rápida é a reação no solo.

Isso indica a capacidade potencial do corretivo de neutralizar a acidez, dependendo do teor e da natureza química do neutralizante presente no corretivo. Cada constituinte apresenta determinada capacidade de neutralização, sendo essa capacidade expressa em relação à capacidade do CaCO³. Para escolher o calcário ideal, é importante observar o PRNT; quanto maior o valor desse indicador, melhor será o corretivo.

Para definir o melhor calcário para cada situação, vale considerar os teores de cálcio e magnésio presentes no solo. É considerada boa uma relação de nível de cálcio cerca de 3 vezes maior do que o nível de magnésio. Se a relação estiver inferior a 3, é mais indicado o uso do calcário calcítico para equilibrar o nível de cálcio no solo.

Também é válido observar a porcentagem de cálcio na capacidade de troca de cátions (CTC). É esperado que as bases do solo estejam nas faixas de 55 a 60% para cálcio e entre 15 a 20% para magnésio. Se os valores não estiverem nas proporções desejadas, uma boa escolha entre calcário calcítico e dolomítico também pode contribuir para este fim.

Como e qual dose deve ser utilizada?

Antes de iniciar o processo da calagem é fundamental escolher o calcário e calcular a dose a ser utilizada, é necessário realizar a análise química do solo para identificar o índice de acidez do solo, a disponibilidade de cálcio, magnésio e teores de alumínio.

Para alcançar os principais benefícios desejados, o sucesso da calagem depende do tempo de reação do produto no solo e da presença de umidade. O calcário agrícola possui uma baixa solubilidade em água e uma lenta reação de neutralização no solo.

Para um processo relevante, estima-se cerca de três a seis meses. Como a prática geralmente é realizada na entressafra, nem sempre há tempo para grandes benefícios na cultura em sucessão, mas irá proporcionar os efeitos positivos para o sistema produtivo em questão.

E devido à baixa mobilidade no solo, o calcário tem efeito apenas próximo à camada onde foi aplicado. Assim, dependendo da profundidade do solo que é estimada a necessidade de correção, pode ser aplicado em camada superficial, sem revolvimento do solo, ou pode ser recomendada a incorporação de maneira uniforme e com equipamentos adequados como arado e grade, dessa forma incorporando o calcário ao solo.

Para a segunda opção, nos anos seguintes pode ser realizada a calagem de manutenção somente com aplicação superficial com o objetivo de manter o pH e os teores de cálcio e magnésio dentro da faixa adequada. Sendo assim, é indispensável um bom planejamento agrícola para otimizar a utilização do insumo.

Quanto à quantidade a ser utilizada, a partir dos resultados da análise do solo e segundo a Embrapa, existem duas metodologias mais utilizadas. Uma delas considera o cálculo de necessidade (NC) de neutralização do alumínio e suprimento de cálcio, sendo o NC obtido pela fórmula abaixo:

NC (t ha⁻¹) = Al³⁺ x 2 + [2 – (Ca²⁺ + Mg²⁺)] x f

f = fator de correção do calcário (100/PRNT) 

Já o segundo método para o cálculo considera a relação positiva entre o pH e a saturação por bases (S) presentes no solo, onde S é obtido pela soma de Ca²⁺ + Mg²⁺ + K⁺ (cmol dm⁻³). Levando em conta a saturação por bases atual do solo (V1), a saturação desejada (V2) e a CTC do solo da camada a ser corrigida a partir da amostra retirada, a partir desses dados, o NC é calculado com a fórmula abaixo:

NC (t ha⁻¹) = [(V₂ – V₁) x CTC]/100 x f 

  • V₁ = valor da saturação por bases trocáveis do solo, atual (100 S/CTC);
  • V₂ = valor da saturação por bases trocáveis do solo desejada;
  • CTC = capacidade de troca de cátions (S + [H + Al³⁺]) em cmol dm⁻³;
  • f = fator de correção do calcário (100/PRNT).

O valor da saturação por bases pode variar conforme a região e as propriedades químicas do solo, bem como as características almejadas para cada cultura. Os valores médios mais utilizados variam em torno de V₂ igual a 70% no estado do Paraná e 60% para São Paulo, Mato Grosso e demais regiões.

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