Você sabe qual a funcionalidade do calcário agrícola? O cultivo de culturas é um trabalho complexo que requer uma enorme quantidade de conhecimentos.
A produção agrícola tradicional enfrenta muitos desafios para atingir adequadamente sua produtividade, sendo assim, condições adequadas de manejo são fundamentais para garantir o sucesso das colheitas.
A qualidade do solo é um componente fundamental para o sucesso produtivo. O desempenho das culturas depende muito do equilíbrio dos níveis de pH no solo.
Quando o solo se torna muito ácido (nível de pH mais baixo) cria-se um ambiente tóxico para as culturas. Esse solo ácido causa deficiências nutricionais severas, ocasionando baixos rendimentos de produtividade.
Neste artigo vamos abranger como o calcário agrícola é uma excelente prática para corrigir a acidez do solo visando a saúde e melhor desempenho para as culturas.
Calcário agrícola X natureza e causa da acidez do solo
Acidez do solo é o termo usado para expressar a quantidade de cátions de hidrogênio (H+) e alumínio (Al3+) (íons carregados positivamente) nos solos.
Quando os níveis de hidrogênio ou alumínio ficam muito altos (solo muito ácido), isso faz com que os nutrientes necessários fiquem indisponibilizados.
E por esse motivo, compromete-se o crescimento das raízes e o desenvolvimento geral dos cultivos. (Figura 1).
Figura 1. Efeitos da acidez do solo. Fonte: Agriculture and Food – Austrália, 2018.
O hidrogênio potencial representado pela sigla pH é o quantificador mais usual para expressar a acidez ou alcalinidade de uma determinada solução. Um pH de 7,0 é definido como neutro.
Valores abaixo de 7,0 são ácidos e valores acima de 7,0 são básicos ou alcalinos (Figura 2). Qualquer alteração nos índices indica grandes mudanças na acidez do solo. A maioria das plantas pode se desenvolver em solos levemente ácidos.
Portanto, o foco da calagem não é para elevar o pH para neutro (7,0) mas sim para evitar problemas de cultivo relacionados ao excesso de acidez no solo.
Figura 2. Relação geral entre pH do solo e acidez. Adaptado de Crozier and Hardy, (2018).
A disponibilidade dos nutrientes é diretamente influenciada pela variação pH do solo. Cada nutriente tem uma resposta positiva em determinada faixa de pH. O ideal para solos cultiváveis é buscar o pH entre 5,5 e 6,5. Vejamos na figura a seguir (Figura 3.)
Figura 3. Disponibilidade de nutriente em relação ao índice de pH no solo. Fonte: IPNI (International Plant Nutrition Institute).
Como vemos na descrição do gráfico, o nitrogênio (N) é mais bem aproveitado pelas plantas em solos com pH acima de 5,5. Ele atinge um pico de máxima disponibilidade na faixa de pH de solo entre 6,0 e 6,5 e começa a decair.
Já o fósforo (P2O5) possui maior disponibilidade em pH de 6,0 a 6,5 enquanto o potássio (K2O) é mais bem aproveitado pelas plantas em solos com pH superiores a 5,5. Sendo assim, cada nutriente tem melhor desempenho numa faixa de pH específica.
Portanto, entender o dinamismo entre nutrientes versus pH é fundamental, já que as principais culturas requerem uma faixa ideal de pH do solo para que possam nutrir-se, crescerem e se desenvolverem.
Como as diferentes fontes de calcário nas plantas podem auxiliar no melhor desenvolvimento dos cultivos?
Alguns solos possuem naturalmente acidez elevada e presença de alumínio. Os altos níveis de acidez representam alta concentração de hidrogênio (H+) indisponibilizando nutrientes vitais para diversos cultivos pela presença de alumínio tóxico, inviabilizando produções como por exemplo: a soja, milho e feijão nestas áreas.
O calcário agrícola ajuda a diminuir os níveis de acidez do solo, tornando-o mais neutro em pH. Ao aplicar calcário em solos ácidos, os agricultores podem garantir que estão ajudando a melhorar a produção de suas colheitas.
Se as culturas não podem crescer adequadamente, tampouco podem produzir no seu máximo produtivo, afetando significativamente o rendimento e seus resultados de sua lavoura.
Logo, é fundamental analisar os níveis de pH do solo para determinar a correção necessária.
Além da função de condicionador de solo diminuindo a acidez e a presença de alumínio (Al3+), o calcário também é fonte de nutrientes fundamentais para o desenvolvimento das plantas como cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+).
Ele é encontrado na natureza na forma de rocha constituída de carbonato de cálcio (CaCO3) e hidróxido de cálcio Ca (OH)2 podendo haver presença também na forma de carbonato de magnésio (MgCO3). De acordo com o teor de magnésio, o calcário agrícola está classificado da seguinte forma:
Sendo assim, o agricultor deve escolher o calcário agrícola de acordo com a necessidade de seu solo. É muito importante avaliar o teor de magnésio presente no solo antes da aplicação do calcário. Para solos pobres em magnésio, a melhor correção é a utilização do calcário magnesiano ou dolomítico (maiores concentrações do nutriente).
A quantidade de calcário nas plantas a ser utilizado vai depender no método de recomendação de cada região seguindo o método mais usual de Saturação por Bases, utilizando a fórmula abaixo:
Onde nc = necessidade de calcário
T = CTC pH 7,0 (mmmolc/dm3)
V2 = saturação por bases desejada para a cultura ser implantada
V1 = saturação por bases atual do solo
PRNT = poder relativo de neutralização total do corretivo
Calculada a correção necessária para o cultivo, a calagem adequada oferece vários benefícios ao cultivo:
- As plantas desenvolvem raízes mais saudáveis com crescimento radicular mais vigoroso e mais tolerante à seca;
- Fonte de cálcio e magnésio quando aplicado calcário dolomítico;
- A solubilidade de nutrientes é melhorada por um pH mais alto, para que as plantas tenham uma melhor suplementação de nutrientes;
- A nodulação em leguminosas é aumentada melhorando a FNB (fixação biológica de nitrogênio);
- Herbicidas à base de triazina (atrazina e simazina) também possuem melhor desempenho. O pH ideal permite a quebra de alguns herbicidas, evitando danos às culturas rotativas;
- Reduz os níveis de manganês e ferro: com o aumento pH do solo há redução dos níveis de manganês e ferro que podem ajudar a minimizar o risco de as plantas se tornarem tóxicas e aumentar suas taxas de crescimento e produção;
- Aumento da atividade microbiana: quando o solo é muito ácido, os microrganismos benéficos do solo não são capazes de prosperar, portanto, a saúde do solo e a possibilidade de absorção de nutrientes nas raízes da cultura ficam comprometidas. O efeito do calcário agrícola nos cultivos, permite criar um ambiente propício para promover a atividade microbiana e melhorar o crescimento saudável das culturas.
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Aplicando calcário em cultivos agrícolas
As diferentes culturas também podem ter diferentes requisitos de quantidade de calcário agrícola. Alguns cultivos podem precisar apenas de uma ligeira diminuição na acidez, enquanto outros, necessitam de um esforço maior para equilibrar os níveis de pH.
Na maioria dos casos, o calcário deve ser aplicado nas áreas ácidas do solo pelo menos seis meses antes da implantação da cultura (Figura 5).
Outro fator importante é o tamanho das partículas do produto. Partículas menores (com maior área superficial), tendem a afetar o pH mais rapidamente do que partículas grandes.
Nesse intervalo após a aplicação do calcário e a instalação da cultura, o solo tem tempo suficiente para se ajustar aos nutrientes adicionados e equilibrar os níveis de pH. Importante destacar também que ao aplicar o calcário, haja um trabalho de incorporação do produto ao solo.
Se o calcário simplesmente permanecer em superfície, levará muito mais tempo para se dissolver e condicionar o solo. No entanto, isso não se aplica a culturas com raízes que se nutrem perto da superfície.
Figura 5. Aplicação de calcário. Fonte: Embrapa.
Conclusão
Resumindo, a manutenção do pH adequado do solo pode aumentar o rendimento da sua colheita e melhorar o desempenho dos seus cultivos. No entanto, é fundamental entender as taxas variáveis de calcário de acordo com o melhor pH para a classe de solo específica.
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Mariana Moreau e Rodrigo Castanho – Especialistas em Desenvolvimento de Mercado Mosaic Fertilizantes.
